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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

II Pedro – parte 2/4

II PEDRO

Parte 2/4

Pr. Walmir Vigo Gonçalves

www.prwalmir.blogspot.com.br

prwalmir@hotmail.com

 

Observação:

O fato de eu citar vários autores não significa que eu considere corretos todos os seus escritos e nem que eu os esteja recomendando.

 

 

VERDADEIRO CONHECIMENTO (1:3-21).

 

1.    Para iniciar esse tópico, destaco, dentre o que já vimos até agora, o fato de que, no versículo 2, Pedro deseja aos seus leitores (os que “conosco alcançaram fé igualmente preciosa...”), graça e paz multiplicadas, porém, deixando claro que estas estão vinculadas ao pleno conhecimento de Deus, à “epignõsis”, em contraste com a “gnõsis” dos hereges gnósticos.

2.    Esse é o verdadeiro conhecimento.

3.    É sobre esse conhecimento que vamos estudar um pouquinho, a partir do versículo 3, até o final do capítulo 1.

 

 

I. O Verdadeiro Conhecimento Gera Transformação – 1:3-11.

 

 

1.    Lembremos que as pessoas para quem Pedro escreveu, de uma forma imediata, estavam sendo assediadas pelos hereges gnósticos, conforme vimos na semana passada.

2.    Estes, que eram amantes do conhecimento (tanto que se deram, ou receberam, a denominação gnósticos), mas que de verdadeiro conhecimento espiritual não tinham nada, ensinavam, como vimos, a licenciosidade moral como uma das formas de destruir o corpo, sede de todo o pecado, segundo eles.

3.    Mas, em contraste com isso, Pedro mostra aos seus leitores que o verdadeiro conhecimento de Deus gera transformação, mudanças positivas na vida do indivíduo.

 

NOTA IMPORTANTE: Antes de continuarmos, convém destacar que o pleno conhecimento de Deus só pode ter quem é Seu filho espiritual, por intermédio de Jesus; aquele que deixou de ser “homem natural”, e se tornou nova criatura, pois, conforme diz a Palavra de Deus: “...o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo”. (I Co.2:14-16)

 

4.    Continuando, no versículo 3 temos duas revelações importantes, a saber:

 

a.    O Divino poder de Deus nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade

                                  i.    Mas o que são essas coisas que dizem respeito à vida e piedade?

                                 ii.    Antes, cabe-nos entender o que é piedade: Piedade é o modo de viver do crente, com reverência diante de Deus, de acordo com os padrões de vida cristãos. Piedade diz respeito ao modo de vida correto para um cristão.

                                iii.    Entendido isso, vamos à reposta da questão levantada.

                               iv.    As “coisas que dizem respeito à vida e piedade” são os meios de desenvolvimento espiritual e o modo eficaz de aplicá-los.

                                v.    Com isso Pedro está dizendo que o crente não deve viver de qualquer maneira, principalmente numa vida de licenciosidade, frouxidão moral (como ensinavam os gnósticos), e que Deus tem um modo de vida para ele (o crente) viver, e, não só tem esse modo de vida, como também, pelo Seu divino poder, providencia os meios para que esse “estilo de vida” possa ser desenvolvido.

                               vi.    Esses meios nós já os conhecemos, e eles já estão disponíveis a nós, e não devemos ficar indo em busca de “novas revelações”, principalmente como as que os gnósticos diziam ter.

 

b.    O Divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude.

                                  i.    Esse conhecimento, que só pode ter, como já enfatizamos em nota anterior, o verdadeiro filho de Deus, pois se trata de um conhecimento especial, fruto da “iluminação”, uma das obras do Espírito Santo de Deus na vida do crente, independente de sabedoria humana, é a fonte originária de tudo o mais. Você submeteu a sua alma a Cristo como Senhor, pela fé, e recebeu um conhecimento de Deus como só têm aqueles que isso também fizeram, e, a partir daí, está disponível a você um caminho para trilhar, e também os meios para trilhar esse caminho.

                                 ii.    Tudo obra de Deus!

                                iii.    Deus nos chamou eficazmente para fora do mundo e para Ele mesmo; da mortalidade para a imortalidade; para sermos participantes de Sua glória e virtude, sua excelência moral, e não para vivermos conforme os gnósticos apregoavam.

 

5.    O versículo 4 mostra algo fantástico, que nos devia fazer parar para refletir bem: Deus quer que nós que escapamos da corrupção que há no mundo, sejamos participantes de Sua natureza.

6.    Talvez esta seja uma das mais profundas declarações do Novo Testamento.

7.    Tão profunda é essa declaração, que não ouvimos muitas pregações a respeito. Poucas vezes ouvimos que salvação não consiste apenas em uma mudança de endereço, mas, também, em uma participação da própria natureza divina.

8.    Não estou dizendo que seremos “deuses”, como afirmam alguns; apenas estou considerando o fato de que Deus quer que tenhamos participação no mesmo “tipo”, na mesma “modalidade” de vida que Ele tem, a começar aqui, nesta vida. Vejamos alguns outros trechos bíblicos:

 

 

“Porque aos que dantes conheceu, também os predestinou para serem CONFORMES à imagem de Seu Filho, afim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Rm. 8:29.

 

“Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho a GLÓRIA DO SENHOR, somos transformados de glória em glória NA MESMA IMAGEM, como pelo Espírito do Senhor”. II Coríntios 3:18.

 

“Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,..., para que sejais CHEIOS DE TODA A PLENITUDE DE DEUS.” Efésios 3:14, 19b.

 

 

9.    Um comentarista, citado por Champlin, em o Novo Testamento interpretado versículo por versículo, de nome Zeller, comenta:

 

 

“Isso não significa que os participantes da natureza divina serão exatamente iguais a Deus. Deus (se) reserva para Sua Pessoa, para Si mesmo, embora compartilhe conosco de Sua natureza. Assim como o sol reflete a sua imagem em um lago claro ou em uma gota de orvalho, mas continua sendo o sol, assim também Deus permanece sendo o que Ele era e é, embora tenha feito os homens participarem de sua natureza.”[1]

 

 

 

10.  Talvez não consigamos compreender muito bem, ou quase nada disso agora; mas isso deveria fazer-nos refletir no fato de que a nossa redenção não significa apenas que iremos algum dia para os céus. Ela tem dimensões tão gigantescas, que somos incapazes de medir. E, sendo assim, o crente deveria empregar toda a diligência, trabalhar esforçadamente (como se tudo dependesse dele) para realizar a tarefa de CONFORMAR A SUA PRÁTICA À SUA NATUREZA.

11.  Nós, crentes, temos a responsabilidade, correspondente com a natureza da qual nos tornamos participantes, de viver retamente.

12.  Devido a isso, Pedro passa a dizer que, empregando toda a diligência, temos que buscar acrescentar em nossa vida uma série de qualidades desejáveis para a vida cristã, sendo que a fé aparece como alicerce de todas as demais.

13.  Esse “acrescentar” segue uma escala ascendente até ao amor.

 

 

“O arcabouço sugere a construção de um edifício de vários andares, tendo a fé como o alicerce e o amor como telhado. Ou, em outra figura

apropriada, Green desenvolve “a escada da fé”, tendo a fé como o degrau inicial, e o amor como último degrau” [2].

 

 

denota confiança pessoal nas promessas de Deus, e serve como alicerce sobre o qual tudo o mais é erguido. A ela deve ser acrescentada a VIRTUDE, que denota excelência moral ou vigor na vida cristã. Em seguida deve ser acrescentado o conhecimento ou CIÊNCIA, que significa a compreensão prática, a fim de que a virtude não seja direcionada erradamente. O seguinte na sucessão é o DOMÍNIO PRÓPRIO (Temperança), que, neste caso, se relaciona especialmente ao controle dos impulsos sexuais da pessoa (já que Pedro estava pensando sobre as práticas licenciosas ensinadas pelos gnósticos. Mas também está em foco, certamente, o controle sobre o temperamento, o egoísmo e quaisquer outras formas de pecado). Ele deve ser suplementado pela PERSEVERANÇA (paciência), que é a palavra neotestamentária básica para denotar paciência; literalmente, ela significa a capacidade para permanecer debaixo de um grande peso. A ela deve ser acrescentada a PIEDADE, que significa semelhança com Deus e estar bem disposto para com a natureza divina (já falei sobre isso mais atrás). Isto leva a pessoa às qualidades gêmeas de FRATERNIDADE E AMOR (amor fraternal e caridade). Os dois verbos neotestamentários básicos traduzidos como amar estão nestas palavras. Fraternidade é derivada de PHILEO, que significa calorosa afeição pessoal por outrem. Amor é derivado de AGAPAO, que significa dar supremo valor a algo. Unidas, elas se juntam para coroar todas as virtudes da vida, que começam com a fé.[3]

 

 

(Os parênteses não fazem parte do texto original desta citação)

 

 

14.  Se em nós houverem e abundarem essas qualidades, como diz o versículo 8, não seremos ociosos (inativos), e nem estéreis (infrutíferos), e  continuaremos crescendo no conhecimento, não meramente intelectual, e sim prático, de nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, se o contrário acontece, isto é, se não há essas qualidades em nós, então, como mostra o versículo 9, somos míopes espirituais.

15.  Champlin faz um comentário forte, mas verdadeiro sobre isso. Veja:

 

 

“Aqueles que, espiritualmente, têm tais deficiências, são os que não têm interesse pelo desenvolvimento espiritual. Não se “esforçam” por aumentar no conhecimento espiritual; são teístas teóricos, mas ateus práticos. Seu interesse se limita às coisas terrenas. Não dão nem cinco minutos por dia à inquirição espiritual séria. Passam pouco tempo com Cristo e gastam muito tempo consigo mesmos; razão pela qual as vantagens pessoais e este mundo lhes parecem muito mais reais do que Cristo e o mundo eterno. Mental e espiritualmente são cegos, pois se têm recusado a desenvolver a visão espiritual.” [4]

 

 

 

16.  Nos versículos 10 e 11 Pedro continua enfatizando, e ele faz isso de maneira cumulativa e cada vez mais forte, que os eleitos não devem e não podem viver da maneira que os gnósticos apregoavam.

17.  Notem que ele é mais enfático, quando diz “procurai fazer cada vez mais (isto é, procurai com uma diligência cada vez maior, depressa, ligeiro) firme a vossa vocação e eleição...”.

18.  Pedro manda sermos ligeiros, diligentes em nosso desenvolvimento, para que não tropecemos.

19.  Porém, muitas vezes é o oposto que acontece: somos lerdos, ou até estáticos, e às vezes até retrógrados em nosso crescimento espiritual. Parece que nós estamos cheios de “vermes” espirituais, e, por isso, assim como uma criança que está contaminada por verminoses, não crescemos.

20.  O verdadeiro conhecimento espiritual, que, repito, não é necessariamente ou simplesmente intelectual, e que só pode ter aquele que pertence a Jesus, gera transformação. Se não há transformação, é porque também não há conhecimento de Deus.

 

 

II. O Verdadeiro Conhecimento Gera Certeza – 1:12-21

 

 

1.    João 17:3 diz: “E a Vida Eterna é esta: que te conheçam a Ti só por único Deus, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”

2.    Depois de falar sobre as transformações geradas pelo pleno conhecimento de Deus, no v. 11, Pedro diz: “Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino Eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”

3.    Quando Pedro, neste contexto, fala sobre sua morte, ele diz que vai “deixar este Tabernáculo”.

4.    Esse tipo de certeza que, não só aqui, mas em todo o Novo Testamento, é expressado, é gerado pelo conhecimento de Deus, o verdadeiro conhecimento.

5.    Pedro quer fazer com que os crentes para quem ele escreveu se lembrem disso, e não se esqueçam nunca, para não desviarem-se para o Gnosticismo.

6.    No v. 12 Pedro diz que não deixaria de exortar, e que estaria sempre pronto a lembrar seus leitores acerca das coisas que ele estava lhes escrevendo, isto é:

a)    Acerca do fato de que os que escaparam da corrupção, que pela concupiscência há no mundo, são participantes da natureza divina;

b)    Acerca do fato de que à fé deve-se acrescentar a excelência moral;

c)     E acerca do fato de que precisamos ser diligentes, ligeiros em nosso crescimento espiritual, para não tropeçarmos.

7.    Seus leitores já sabiam disso, diz Pedro, mas mesmo assim ele não cessaria de lembrar-lhes sobre isso. Enquanto estivesse neste “Tabernáculo”, diz Pedro, despertá-los-ia com admoestações (O termo admoestação significa advertência acerca de um perigo a ser evitado[5])

 

 

8.    Pedro diz também que procuraria fazer com que mesmo depois de sua morte eles tivessem lembrança destas coisas (com certeza ele estaria fazendo isto através da palavra escrita, como esta carta, por exemplo).

9.    Após essas palavras, Pedro faz um tipo de defesa sobre o que ele ensinava – Leia os vs. 16-21.

 

 

Pedro não havia baseado o seu ensino a respeito da vinda de Cristo em fábulas engenhosas. Ele o baseava no fato de ter experimentado a transfiguração de Cristo (Mt. 17:1-5; Mc. 9:2-7; Lc. 9:28-35). Fábulas engenhosas era uma referência ao método dos gnósticos em seus ensinamentos. Dizendo ter uma revelação especial, ou conhecimento fora do comum (gnosis, de que eles derivaram o seu nome), os gnósticos pensavam na divindade como uma longa série de “emanações” da divindade superior, para quem eles tinham vários nomes. Segundo o ponto de vista gnóstico, esta divindade mais elevada exalava de si mesma uma emanação. Embora fosse um pouco inferior, esta ainda possuía a qualidade de divindade. Esta emanação, por sua vez, exalava uma emanação inferior, que ainda possuía a qualidade de divindade, porém mais removida da divindade mais elevada. Os gnósticos consideravam Cristo uma das mais baixas, de uma longa série de emanações da divindade. Ele estava longe do majestoso Cristo que Pedro vira na Transfiguração. Pedro baseou o seu ensinamento em sua experiência, quando compartilhava, com Tiago e João, da Transfiguração de Cristo. Eles haviam sido testemunhas oculares da sua majestade. Verifique a narrativa da Transfiguração nos evangelhos. Naquela ocasião Jesus recebeu... honra e glória, quando a voz vinda da nuvem lhes falou. A voz foi da Glória Magnífica, isto é, do próprio Deus. Cristo, em sua Transfiguração, foi visto como alguém que participava desta Majestade(v.16). por ocasião de seu batismo, a voz do céu havia dito a Jesus: “Tu és meu Filho Amado; em ti me comprazo”(Mc. 1:11). Por ocasião de sua Transfiguração, a voz falou aos discípulos: “Este é o meu Filho Amado, em quem me comprazo”(v.17; Mt.17:5). Aquela aparição refulgente e gloriosa de Cristo, Pedro entendera como predição do que Cristo será quando de sua Segunda vinda. As testemunhas oculares apostólicas dessa glória são a Palavra Profética(v.19), à qual os leitores de Pedro devem dar atenção. A essa palavra profética, Pedro acrescenta a Escritura profética(v.20). A ela os leitores de Pedro deviam dar atenção como a uma candeia que alumia em lugar escuro. Considerava-se o mundo como experimentando as trevas da noite. Nessas trevas, a Palavra de Deus, através de seus profetas, estava brilhando como uma candeia. Ela continuaria a brilhar até a luz da manhã. Até que o dia amanheça refere-se à Segunda vinda de Cristo, que dará fim à escuridão do mundo, da mesma forma como o sol que raia dá fim à escuridão da noite.”[6]

 

 

 

10.  Só o verdadeiro conhecimento de Deus pode gerar certeza em nosso coração.



[1] ZELLER, citado por R. N. Champlin, em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, volume 6: Tiago – Apocalipse, p. 180. 10 ª reimpressão, São Paulo – SP, editora

 

Candeia, 1998. 666 p.

 

[2] SUMMERS, Ray, em Comentário Bíblico Broadman: Novo Testamento, p. 208. Editor Geral: Clifton J. Allen. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. 3ª ed. Rio de Janeiro, JUERP,

 

1990. Vol. 12. 458 p.

 

[3] Ibid.

 

[4] CHAMPLIN, R. N. – O novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 6: Tiago – Apocalipse, p. 182. 10 ª reimpressão, São Paulo – SP; editora Candeia, 1998.  666 p.

 

[5] SHEDD, Russel P. – Disciplina na Igreja. 1 ª ed., 3 ª reimpressão. São Paulo – SP. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1996 – 72 p.

 

[6] SUMMERS, Ray, comentando II Pedro em o Comentário Bïblico Broadman : Novo Testamento. Editor Geral: Clifton J. Allen. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. 3 ª ed. Rio de

 

Janeiro, JUERP, 1990.

II Pedro – parte 1/4

II PEDRO

Parte 1/4

Pr. Walmir Vigo Gonçalves

www.prwalmir.blogspot.com.br

prwalmir@hotmail.com

 

Observação:

 

O fato de eu citar vários autores não significa que eu considere corretos todos os seus escritos e nem que eu os esteja recomendando.

 

 

INTRODUÇÃO

 

1.    Esta carta, atribuída, ainda que com algumas dificuldades, a Pedro, foi escrita, sem sombra de dúvidas, para combater heresias que se proliferavam na época.

 

“A palavra heresia vem do grego “haíresis”, e significa, basicamente, falso ensino, ou seja, uma exposição doutrinária que não condiz com a verdade Bíblica; uma abordagem distorcida e pervertida do Cristianismo bíblico. Assim, nem todo aquele que fala heresia é membro de uma seita, mas todo membro de uma seita fala heresia.” [1]

 

 

2.    Havia uma seita herética chamada Gnosticismo que, dentre as muitas heresias, ensinava a licenciosidade moral como meio de enfraquecer e degradar o corpo. O seu pensamento era de que toda matéria é má em si mesma, e, sendo o corpo matéria, ele é a sede do princípio do pecado, e precisa ser destruído. Também os gnósticos negavam a Cristo e desafiavam a autoridade de Deus.

3.    É exatamente esta seita, com estas e outras linhas de pensamento, que esta carta está combatendo.

4.    Vamos tentar estudá-la da forma mais clara possível, e tirando o máximo de proveito que pudermos.

 

SAUDAÇÃO (1:1, 2)

 

1.    A carta começa com uma saudação.

2.    Nessa saudação, o autor é identificado como sendo Simão Pedro, o “servo” e “apóstolo” de Jesus Cristo.

3.    Pedro se identifica como sendo “servo” de Jesus Cristo. No Grego bíblico, servo é douloz (doulos), literalmente: “ESCRAVO”.

4.    Isso é muito significativo, é um exemplo, vindo de um apóstolo (e Paulo assim também se considerava – v. Rm.1:1), sobre como deveria ser o nosso comportamento em relação a Deus.

5.    Todos sabemos que um escravo é alguém que não tem o direito de agir segundo sua própria vontade, senão segundo a vontade de seu senhor (pelo menos em sentido geral). Pedro era assim, totalmente consagrado ao Senhor. A vontade do Senhor, e não a dele, é que era suprema em sua vida.

6.    Pedro também se identifica como apóstolo, como, de fato, o era. Identificando-se assim, ele estaria mostrando para os crentes a quem ele endereçou sua carta, que aquilo que estava sendo apregoado pelos hereges, era contrário aos ensinamentos e exigências morais dos apóstolos.

7.    Milton, citado por Champlin, escreveu esta frase: “Tudo é, se eu tiver graça para assim usá-la, feito como quem está sob o grande olho do grande Mestre”[2] . Que seja assim conosco também.

 

 

8.    A seguir, ainda no v.1, Pedro mostra quem são os destinatários da carta: pessoas que também haviam alcançado, como os apóstolos, a fé pela, ou na justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.

9.    Pedro diz, nessa frase, que essa fé, a mesma que os apóstolos tinham, livre das heresias gnósticas, é preciosa. Vamos pensar um pouquinho sobre a preciosidade da fé:

a.    A Fé traz a remissão dos pecados (At. 10:43); a justificação (Atos 13:39; Romanos 5:1; Gálatas 2:16); a santificação (Atos 15:9; 26:18;); a luz espiritual (João 12:36, 46); a vida espiritual (João 20:31 e Gálatas 2:20); a vida eterna; o descanso celestial (Hb. 4:3); o acesso a Deus (Rm.5:2; Ef.3:12); etc.;

b.    A fé é um dos aspectos do fruto de Espírito Santo (Gl. 5:22);

c.    A fé é o guia da vida espiritual (Rm.1:17 e Hb.10:38);

d.    Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6);

e.    A fé é necessária para a guerra espiritual bem sucedida (I Tm.6:12)...[3]

 

10.  A lista acima não esgota os aspectos por causa dos quais a fé é preciosa. Coloquei-os apenas como alguns exemplos para enfatizar a preciosidade da fé.

11.  No versículo 2 temos a saudação propriamente dita.

12.  É comum, nas epístolas, o desejar a graça e a paz. A diferença neste caso aqui, é que Pedro deseja graça e paz, porém vinculadas ao conhecimento de Deus e do Senhor Jesus.

13.  A palavra usada aqui, e que foi traduzida por conhecimento, é epignõsis, e indica pleno conhecimento.

 

“Pedro ora, pedindo pleno conhecimento – epignõsis – em contraste com o conhecimento, gnõsis, que era reivindicado pelos gnósticos. Ele orou por uma multiplicação da graça e da paz no âmbito do pleno conhecimento, que tem o seu alicerce em Deus e no Senhor Jesus Cristo” [4].

 

 

14.  Você tem buscado conhecer plenamente ao seu Deus?

15.  O profeta Oséias já dizia: “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor: como a alva a sua vinda é certa; e Ele descerá sobre nós como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra”(6:3)

16.  No conhecimento pleno do Senhor nosso Deus certamente encontraremos a paz, e muita graça, graça sobre graça.

17.  Que Deus nos permita conhecê-lO assim!



[1] Gomes, Joselito Moraes – Lição n º 1 da Revista Educação Cristã, volume VIII: “Entendendo as Religiões Hoje”. São Paulo, editora SOCEP.

 

[2] MILTON, citado por R. N. Champlin em o “Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, volume 6: Tiago – Apocalipse, p.176. 10ª reimpressão, São Paulo – SP, editora Candeia, 1998. 666 p.

[3] CHAMPLIN, R. N. – O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 5: Filipenses – Hebreus, p.618. 10ª reimpressão, São Paulo – SP., editora Candeia, 1998. 670 p.

[4] SUMMERS, Ray, em Comentário Bíblico Broadman: Novo Testamento, p.207. Editor Geral: Clifton J. Allen. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. 3ª ed. Rio de Janeiro, JUERP, 1990. Vol. 12. 458 p.